Eu sou uma pessoa muito observadora. Observo outras pessoas e seus comportamentos. Realmente acredito que se eu estudo uma pessoa, saberei lidar com ela. Simples assim. Enfim, o que quero dizer a partir dessa ladainha toda é que tenho em mim um lado “psicóloga” muito forte. Todos os assuntos relacionados à psicologia e à mente humana me atraem. E todos os livros que têm a mente e seus distúrbios como mote também. É o caso de “O Duplo”, de Dostoiévski.
O livro traz a história do senhor Golyádkin, um funcionário público do baixo escalão que deseja, a qualquer custo, ascender socialmente. Mas, diante de portas e portas fechadas na cara, o senhor Golyádkin cai em desespero e frustração, até que encontra o seu duplo, que o segue até sua casa e a quem o protagonista solitário compartilha suas dores e temores. O senhor Golyádkin segundo é idêntico ao primeiro, inclusive no nome. A diferença de um para o outro? O segundo tem toda a inteligência e perspicácia para chegar ao posto desejado pelo original.
“O Duplo” é uma espécie de ensaio de Dostoiévski sobre o que a mente de uma pessoa solitária, sem autoconfiança e frustrada é capaz de criar. E, como sabemos, Dostoiévski é mestre em conduzir a narrativa de mentes problemáticas, inquietas, cheias de conflitos. O duplo do senhor Golyádkin representa, para mim, todo o seu medo de viver, de se aceitar. É a transferência para o outro daquilo que se tem vontade de ser e fazer.
Fico pensando em que medida cada um de nós tem também um duplo (ou vários). Quando o nosso duplo aparece (se é que ele aparece)? Em que situações desejamos ter um clone? Em quais momentos da vida transferimos para outro nossos desejos ou nossos segredos mais secretos? Viver é algo muito complicado. Saber viver com as próprias limitações, com desilusões e com os outros também o é. É preciso fortalecer a mente para sobreviver.
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“Claro, perdoar e esquecer ofensas são a virtude número um, mas mesmo assim é ruim”.
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O Duplo
Fiódor Dostoiévski
Editora 34
Tradução: Paulo Bezerra